| 200 crianças e 1 maestro
Ou o dia em que as crianças do Coral 200 Vozes, do Programa AABB Comunidade, se encontraram com João Carlos Martins
Brasília, 3 - Ele chegou de paletó, mas logo estava apenas de camiseta preta de malha. De cenho franzido, compenetrado, circulava no palco checando partituras e ouvindo o som do teclado. Ensaiava, também, alguns movimentos que seriam importantes, mas ainda não estavam completos.
Ali perto se ouvia um burburinho de vozes infantis. Separados por uma parede, eles se preparavam para um encontro. Ainda estavam invisíveis um para os outros. Frente-a-frente assumiriam suas identidades. De um lado, o maestro João Carlos Martins, pianista considerado o maior intérprete de Johann Sebastian Bach e que marcou a música clássica do século XX. Do outro, dezenas e dezenas de crianças integrantes do Programa AABB Comunidade, realizado pela Fundação Banco do Brasil e parceiros.
Vindas de Anápolis e Cristalina, em Goiânia, e também de Brasília, local do encontro, as crianças participam do programa durante todo o ano, três vezes por semana, daquele reconhecido por especialistas como um dos mais completos programas de complementação escolar.
Para muitas delas aquela era a primeira viagem ou a primeira visita à capital do país. Ou a primeira vez em que tomavam suco ou refrigerante em taças. Ou a primeira vez em que provavam sorvete com abundante cobertura de chocolate. Parecia, portanto, dia de festa.
Homenagem - Mas logo todos estavam posicionados para realizar um ensaio. É que no dia 13 de outubro de 2008 elas subirão, às 20h30, também pela primeira vez, no imponente palco da Sala Villa-Lobos do Teatro Nacional Cláudio Santoro, em Brasília. A apresentação do Coral 200 Vozes é a homenagem da Fundação aos 200 anos do Banco do Brasil.
O maestro cumpria um ritual. Ouvia a melodia, depois as crianças já ensaiadas em suas cidades por maestrinas que fizeram, segundo João Carlos, um trabalho brilhante, acompanhado pela professora Beatriz Salles.
Na primeira canção as vozes ainda estavam baixas. Alguns mostravam sua timidez deixando a mão sobre a boca. Mas todas mantinham os olhos vidrados naquele homem que dizia: “Agora vamos trabalhar para fazer muito bonito”.
Gesticulando muito, batendo o pé ao compasso da música, cantarolando na língua do parará, ele passou dicas rápidas às crianças que, àquela altura, já soltavam risinhos diante de uma figura que se deixava contagiar tanto pelo trabalho que parecia que ia saltar do palco.
Diversão - O método agradou. “Ele é divertido. Gostei do seu jeito de mexer com as mãos e dizer parará, parará. É mais fácil de aprender”, disse Sabrina de Jesus, 9 anos.
E aí, pareceu mágica. Na segunda audição, as vozes cresceram. Ganharam a força que o maestro queria ver cada vez maior. “Tudo forte. Mais, mais. Quando for alto é para o mundo inteiro ouvir. Baixinho, só para vocês ouvirem”.
Logo, não havia mãos na boca. E nem maestro atrás de uma mesinha. E ele mesmo explicou a razão. “Vocês agora estão fazendo música”.
As mãos do maestro dançavam, seu corpo dançava, sua feição era de deleite e as crianças já compreendiam tudo. Mas por que ele faz assim? “Ele não é o melhor do mundo?”, perguntou Karen Marques Brandão, também de 9 anos.
A chuva caiu. Parecia querer participar. O maestro olhou para ela. Parecia concordar que o cantar da chuva, apesar de bonito, não podia fazer parte do ensaio do Coral 200 Vozes. O intervalo foi o tempo necessário para que a chuva também se apresentasse.
Depois, as canções foram passadas novamente e o maestro despediu-se de todos dizendo que estavam prontos. A criançada sorriu, gritou, aplaudiu. E ele disse que apesar de parecer um, quando estava de casaca, não era um mágico. Apenas obtinha resultados tão surpreendentes e rápidos, porque a vida foi ensinando a lidar com as crianças. São 4 mil nos projetos sociais que desenvolve em São Paulo. “No momento em que você fala com o coração elas entendem e respondem também com o coração”.
200 Anos do Banco do Brasil
Data: 13.10.2008
Hora: 20h
Local: Teatro Nacional Cláudio Santoro Sala Villa Lobos
Brasília, DF
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