Extrativistas inauguram agroindústria no nordeste goiano

Projeto com investimentos sociais da Fundação Banco do Brasil garante mais espaço para frutos do cerrado no mercado consumidor

Brasília, 12 – Há quatro anos, quando Jeovanda Brandão olhou ao seu redor e viu nas frutas do cerrado uma oportunidade única de geração de trabalho e renda no nordeste goiano, ela não imaginava que chegaria tão longe. “Um dia veio um passarinho verde e me avisou que eu tinha esta possibilidade”, conta a mineira que passou a maior parte da vida em Damianópolis (GO).

Ela, que coletava pequis, foi incentivada por um técnico do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) a formar um grupo organizado de extrativistas. “Sempre fui roceira, mas chega uma época em que a idade não deixa mais a gente trabalhar e, pela falta de outras opções na cidade, pensei em me juntar a outros coletores para fazer algo mais organizado”, relembra.

Bateu na porta das pessoas, pregou cartazes pela cidade, conseguiu convencer alguns e teve, ela mesma, que entender o que era o trabalho associativista. “Nas reuniões que começamos a fazer as coisas foram se esclarecendo, mas ainda estou no caminho, aprendendo”.

O aprendizado foi rápido e os frutos do cerrado renderam outros. Na manhã de terça-feira (11), Jeovanda era a mais emocionada e orgulhosa entre os que participavam da inauguração da Agroindústria de Processamento de Frutos do Cerrado – uma iniciativa da Associação dos Produtores e Beneficiadores de Frutos do Cerrado (Benfruc), a entidade que ajudou a criar, em 2004, e que preside. “É a realização de um sonho. E minha felicidade não cabe em palavras”, falou.

Investimentos sociais - A agroindústria faz parte do projeto Aproveitamento Sustentável dos Frutos do Cerrado, realizado pela entidade e que conta com investimentos sociais da Fundação de R$ 197 mil. Construída em Damianópolis, na Rodovia GO-108, em um terreno de 2,5 mil m2 , a unidade vai atender ainda os municípios de Mambaí e Sítio D’Abadia.

Com 150 m2 de área construída a Agroindústria de Processamento de Frutos do Cerrado possui recepção, áreas para lavagem, descasque inicial, despolpamento e envase, depósitos para ingredientes, embalagens e rótulos, produto final e expedição, além de sala de pesagem e titulação, vestiários e sanitários. Na primeira fase de implantação, o foco do negócio será a fabricação de polpa de espécies frutíferas nativas, principalmente o pequi. “A previsão é de que em 2009 sejam também produzidos doces”, explica o gerente de Agronegócios do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae-GO), Wanderson Portugal Lemos.

O processo que já vinha sendo feito pela Benfruc de forma artesanal ganhou maquinário apropriado para ser expandido e profissionalizado, garantindo maior espaço no mercado consumidor para as frutas nativas do cerrado. “O mais importante deste trabalho é o valor comercial dado aos frutos nativos desta região. É a transformação dessas árvores, não em carvão, mas em dinheiro no bolso dos pequenos produtores e coletores”, afirma o presidente da Fundação Banco do Brasil, Jacques Pena, que participou do evento.

De acordo com Pena, o desenvolvimento que todos pensam para o Brasil, focado em grandes indústrias só é possível em poucos lugares. “Nos demais, ele só vai acontecer baseado na experiência, na vocação e no potencial locais. Para tanto é preciso acreditar que a força das pessoas juntas é que vai transformar a realidade por meio da geração de empreendimentos solidários e, conseqüentemente, da geração de trabalho e renda”, disse.

Produção - Com capacidade de produção de 100 toneladas de frutas ao ano, a agroindústria vai atender diretamente as vinte famílias que fazem parte da Benfruc e cerca de 500 extrativistas. “Até o ano que vem queremos ter 250 famílias associadas. Muita gente desistiu ou não acreditou no início. Mas esse é um trabalho que precisa de persistência para dar certo”, afirmou
Jeovanda.

Além do presidente da Fundação Banco do Brasil, Jacques Pena, participaram da inauguração representantes de todos os parceiros da Benfruc, como a Prefeitura de Damianópolis, o Ministério da Integração Nacional, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa Cerrados/DF), o Ibama/Instituto Chico Mendes, a Agência Goiana de Desenvolvimento Regional e a Secretaria de Agricultura do Estado de Goiás.