Fundação Banco do Brasil forma 177 descendentes de quilombolas do Vale do Ribeira

Região abriga importante conjunto de comunidades quilombolas, nos municípios de Eldorado, Iporanga, Barra do Turvo, Cananéia, Iguape, Itaoca e Jacupiranga

Brasília, 17 – A paisagem chama a atenção à chegada do Quilombo André Lopes, em Eldorado, no interior de São Paulo. A Escola Maria Antônia Chules Princesa, onde ocorrem algumas das aulas de alfabetização de adultos, foi a escolhida para a formatura dos 177 descendentes de quilombolas do Programa BB Educar.
Uniformizados, os alunos vão chegando aos poucos; alguns a pé, outros de ônibus. É a primeira formatura, no Vale do Ribeira, do BB Educar, programa da Fundação Banco do Brasil dedicado à alfabetização de jovens e adultos. As turmas, com alunos entre 18 e 76 anos, são acompanhadas pelo coordenador local, André Luiz Pereira de Moraes.

Seu Izair de França, de 73 anos, é um dos alfabetizandos. Elegante, disse que fez questão de vestir a melhor roupa que tinha em casa - uma camisa branca de tergal e uma calça azul, ambas compradas por ocasião de suas bodas de ouro. Logo depois, a roupa dá lugar ao uniforme do programa. Ele conta que resolveu estudar após os 70 anos, porque sempre sonhou ler. “Quando fazia alguns negócios, tinha que pedir às pessoas para decifrarem os documentos para mim. Ainda não sei muita coisa, mas pretendo continuar os estudos no ano que vem”, afirma.
A maioria dos alunos tem objetivos diferentes das metas de estudantes comuns: eles desejam apenas ler, escrever e se comunicar melhor. Por causa da idade, já não têm o sonho de conseguir melhores posições no mercado de trabalho.

Entre a lavoura e a escola - O dia-a-dia dos quilombolas não costuma variar muito. Começa com o trabalho nas lavouras de arroz, milho, feijão, cará e banana. À noite, eles freqüentam a escola. Sebastião Rodrigues, 63 anos, mora e estuda no Quilombo Pedro Cubas. É um desses lavradores que se diz feliz com o BB Educar. “Já morei perto de escola, mas a minha mãe não me deixava estudar, porque tinha medo que outras crianças me batessem. Se hoje não sei ler nem escrever, a culpa não é minha. Agora, no entanto, estou realizando meu sonho”, diz orgulhoso.

Localizado na divisa entre São Paulo e Paraná, o Vale do Rio Ribeira abriga um importante conjunto de comunidades quilombolas. São pelo menos 30 comunidades remanescentes de quilombos na região, distribuídas, principalmente, pelos municípios de Eldorado, Iporanga, Barra do Turvo, Cananéia, Iguape, Itaoca e Jacupiranga.

Os quilombolas receberam, durante o curso, óculos para poder aprender melhor. A ação resulta de parceria da Fundação Banco do Brasil, com a Equipe de Articulação e Assessoria às Comunidades Negras do Vale do Ribeira (Eaacone) e a Prefeitura de Eldorado. Por meio do projeto Saúde Ocular, 115 pares de óculos foram entregues aos estudantes que necessitavam de correção visual. Os exames oftalmológicos são gratuitos e servem para identificar e corrigir deficiências visuais que acarretam prejuízos à aprendizagem, ao desenvolvimento intelectual e à socialização.

“Em Brasília, vemos números, estatísticas e fotografias. Por isso, é sempre muito importante visitar os lugares, conhecer as pessoas, ver os rostos e os sorrisos dos cidadãos que fazem parte dos projetos da Fundação BB. Aqui, consigo perceber o nível de importância e a relevância que as pessoas dão a aprender a ler, escrever e se comunicar melhor”, sintetiza Jacques Pena, presidente da Fundação Banco do Brasil.