Fundação BB lança Projeto Memória no Rio Grande do Sul
Exposição sobre João Cândido e a luta pelos direitos humanos, tema do ano, será aberta em Porto Alegre e Rio Pardo
Brasília, 2 – A Fundação Banco do Brasil lançará, na próxima quinta-feira (4), nas cidades de Porto Alegre e Rio Pardo, no Rio Grande do Sul, a 11ª edição do Projeto Memória. O tema deste ano é “João Cândido e a luta pelos direitos humanos”.
O primeiro lançamento será às 10h30, no Centro Regional de Cultura Rio Pardo, em Rio Pardo. Às 16h, o evento será em Porto Alegre, no Salão de Festas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
João Cândido defendeu, no início do século passado, melhores condições de trabalho para os marujos e a abolição de castigos corporais na Marinha, liderando o movimento conhecido como Revolta da Chibata. Apesar de a luta ter redundado no compromisso do Governo Federal em abolir os castigos aos marinheiros, João Cândido foi expulso da corporação, internado em hospital psiquiátrico e trabalhou até o fim da vida na Praça XV, descarregando peixes de navios.
Para o presidente da Fundação Banco do Brasil, Jacques Pena, a escolha de João Cândido como homenageado deste ano é um marco. “É a primeira vez que um negro ocupa a posição. Temas como escravidão, monocultura e latifúndio, ligados à sociedade da época, e com reflexos no Brasil de hoje, voltarão a ser discutidos por meio do estudo da vida e lutas de João Cândido”, afirma.
Participam do lançamento do Projeto Memória no Rio Grande do Sul, além do presidente da Fundação BB, Jacques Pena, o diretor de Desenvolvimento Social, Jorge Streit, e o gerente de Educação e Cultura, Marcos Fadanelli Ramos. Também estão previstas a participação de familiares do homenageado, como o neto Candinho, e de superintendentes do Banco do Brasil de ambas as duas cidades.
João Cândido - O brasileiro João Cândido Felisberto, o Almirante Negro, defendeu, no início do século passado, melhores condições de trabalho para os marujos e a abolição de castigos corporais na Marinha. A luta teve como palco os encouraçados Minas Gerais, São Paulo e Deodoro e o cruzador Bahia, ancorados na Baía de Guanabara (RJ), para a posse do Marechal Hermes da Fonseca na Presidência da República, em 1910, alguns dias antes.
Cerca de 2 mil marinheiros, a maioria negros, sob liderança de João Cândido e Francisco Dias Martins, foram habilidosos na condução das embarcações e de suas reivindicações. As péssimas condições de trabalho nos navios e o código disciplinar em vigor, que previa a aplicação de castigos corporais, foram as principais causas da Revolta da Chibata. Como não foram atendidos, os revoltosos ameaçaram bombardear o Rio de Janeiro, caso suas reivindicações não fossem atendidas.
Com a votação, pelo Congresso Nacional, da abolição da chibata e a concessão da anistia, os marinheiros encerraram a revolta. O governo e as autoridades militares, no entanto, não cumpriram o acordo, prenderam e castigaram os marujos, que se rebelaram novamente. A reação do governo foi bárbara: o massacre dos rebeldes na Ilha das Cobras. Os que não morreram foram presos e enviados para a construção da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré, no Acre.
Anistia - João Cândido sobreviveu e foi internado em um hospital para loucos. Tuberculoso, foi solto alguns anos depois. Sobreviveu o resto de sua vida como vendedor de peixes no mercado do Rio de Janeiro, onde morreu, sem patente e na miséria, em 1969, aos 89 anos de idade.
Em maio deste ano, o plenário da Câmara dos Deputados aprovou o projeto de lei, PL 7198/02, da ex-ministra Marina Silva (PT-AC), que concede anistia post mortem a João Cândido Felisberto e aos demais participantes do movimento. O PL foi sancionado pelo presidente Lula em julho.
No último dia 20, durante a comemoração do Dia da Consciência Negra, no Rio de Janeiro, o ministro da Secretaria Especial de Promoção da Igualdade Racial (Seppir), Edson Santos, lembrou que a anistia resgatou uma dívida histórica para com a população negra. “Precisamos, no entanto, refletir sobre os muitos passos que teremos que dar para que o Brasil venha a ser, efetivamente, uma nação de iguais, e que a educação seja o principal instrumento de inclusão e de promoção da cidadania”, afirmou.
Projeto Memória – Desenvolvido desde 1997 pela Fundação BB, em parceria com a Associação Cultural do Arquivo Nacional e a Petrobras, o Projeto Memória resgata a história de personalidades que defenderam a inclusão social no Brasil, de forma a preservar a vida, o pensamento, a obra e os fatos marcantes que contribuíram para a transformação social e a construção da cultura brasileira.
O Projeto Memória inclui uma página na internet sobre a vida e a obra do homenageado, uma exposição itinerante em 800 municípios brasileiros e a produção de documentário e livro fotobiográfico. As obras serão distribuídas para 5,3 mil bibliotecas públicas do país. Além disso, um kit pedagógico, com almanaque histórico e guia do professor, também serão editados e enviados a 18 mil escolas públicas.
Nove personagens já foram tema do Projeto Memória desde então: o poeta Castro Alves, o escritor Monteiro Lobato, o jurista Rui Barbosa, o navegante Pedro Álvares Cabral, o ex-presidente Juscelino Kubitschek, o sanitarista Oswaldo Cruz, o sociólogo Josué de Castro, o educador Paulo Freire e a feminista Nísia Floresta.
O homenageado de 2009 será o indigenista Marechal Cândido Rondon.
Lançamento do Projeto João Cândido em Rio Pardo/RS
Data: 4.12.2008
Hora: 10h30
Local: Centro Regional de Cultura Rio Pardo
Endereço: R. Andrade Neves, 679, Rio Pardo/RS
Lançamento do Projeto João Cândido em Porto Alegre/RS
Data: 4.12.2008
Hora: Às 16h
Local: Salão de Festas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)
Endereço: R. Paulo Gama, 110, Porto Alegre/RS