Brasília, DF
13 de Outubro de 2008
 

Projeto Veredas vence Prêmio Objeto Brasileiro

Iniciativa destaca produção artesanal contemporânea brasileira. No Vale do Urucuia, sede do projeto, a Fundação Banco do Brasil investe no desenvolvimento regional sustentável

Brasília, 13 - Diante do céu claro, do sol forte e de uma paisagem seca, os fogos de artifício não tiveram tanto impacto na Semana Cultural e Literária Guimarães Rosa, em Sagarana/MG, quanto o brilho do olhar das mulheres do Projeto Veredas. Elas comemoravam, no último fim de semana, o primeiro lugar na categoria Ação Sócio-ambiental, a mais importante do I Prêmio Objeto Brasileiro, promovido pela A Casa - Museu do Objeto Brasileiro, de São Paulo.

O objetivo da iniciativa é destacar o melhor da produção artesanal contemporânea do Brasil. O concurso recebeu mais de mil inscritos. Destes, 62 foram selecionados para a fase final de avaliação e somente oito foram premiados.

O Projeto Veredas, criado em 2002, integra cinco associações de artesãs do noroeste de Minas Gerais. Na região, a Fundação Banco do Brasil e parceiros realizam o Projeto de Desenvolvimento Sustentável Urucuia Grande Sertão. Por meio do programa, a Fundação BB já investiu cerca de R$ 5 milhões desde 2005. Os recursos são utilizados para reaplicar tecnologias sociais e no investimento das cadeias produtivas da apicultura, fruticultura, frutos do cerrado, mandiocultura, artesanato e turismo. Ações de mobilização e de capacitação técnica e gerencial também são realizadas.

As artesãs transformam algodão em fios e tramas com uma trajetória de muito sucesso Brasil afora. Nem sempre foi assim, no entanto. “Elas já tinham parado de fiar há mais de 20 anos. Era sinal de pobreza ter que produzir sua própria roupa de cama e outros objetos do lar. O primeiro desafio foi fazer com que concordassem em retomar o trabalho e, mais importante, tivessem orgulho de sua produção”, explica a consultora da organização Artesanato Solidário (Artesol), Luciana Vale.

Para dar início ao projeto Luciana teve que bater de porta em porta convidando as mulheres para resgatar a arte da tecelagem que, no passado, garantiu o sustento de suas mães e avós. No início, a mobilização redundou na criação de três núcleos de artesanato. Hoje, já são cinco, Fio Ação, em Natalândia, Casa das Artes, em Bonfinópolis, Tecelagem das Veredas, em Sagarana, Cores do Cerrado, em Uruana de Minas, e Tecendo o Sertão de Minas, de Riachinho. Juntas, reúnem 200 mulheres especializadas nas atividades da fiação, da
tecelagem e do tingimento.

No último dia 11, aproveitando a realização da Semana Cultural e Literária Guimarães Rosa, em Sagarana, Luciana fez a entrega do prêmio bruto de R$ 10 mil às presidentes das associações. “Há sugestões de transformá-lo em capital de giro, de usá-lo para comprar material e até mesmo de distribuí-lo entre elas”, explicou.
Rita Conceição da Silva, 42, e Rosenilda Araújo Martins, 30, que viajaram acompanhadas por Luciana para representar o projeto no dia da premiação, em 25 de setembro, estavam ansiosas para relatar às colegas os resultados da empreitada.

Do medo de viajar de avião pela primeira vez, passando pelo carinho recebido na casa da mãe de Luciana - que hospedou as duas e fez o papel de mãe solidária - até o estranhamento do trânsito paulistano – seus ônibus e metrôs lotados. Nada ficou de fora da narrativa que fazia os olhos das duas se encherem de lágrimas.
Para Rita, que também preside a Associação de Natalândia, voltar a trabalhar com a tecelagem significa homenagear a memória da mãe e da avó e resgatar a cultura que baseou sua infância. “Mas não achava que
tinha futuro além do sustento da família”.

A opinião mudou quando soube que o Projeto Veredas tinha conquistado o maior prêmio em dinheiro da categoria mais concorrida do Objeto Brasileiro. “Isso é bom, é maravilhoso. Nem tenho palavras para explicar o que senti”.

A mesma incredulidade passou pela cabeça de Rosenilda, presidente da associação de Bonfinópolis. “Eu pensava: será que a gente está com esse poder tudo?”
“O mais interessante do Projeto Veredas é a utilização do recurso natural, da mão-de-obra e da técnica artesanal locais, que resgatam hábitos culturais antigos da região. O uso desses saberes no desenvolvimento de produtos e na diversificação das atividades das artesãs faz com que características locais cheguem ao mundo contemporâneo e juntam o interior do Brasil às grandes metrópoles”, afirma um dos responsáveis pela concepção e desenvolvimento do prêmio, Christian Ullmann.

A Associação de Artesãos de Urucuia também foi contemplada na mesma premiação. O projeto Caixas de Buriti recebeu a menção honrosa da categoria Produção Coletiva.

Os produtos selecionados podem ser conferidos pelo público na Exposição I Prêmio Objeto Brasileiro, que fica em cartaz até o dia 28 de novembro, em São Paulo/SP.

Exposição 1° Prêmio Objeto Brasileiro
Visitação de de segunda a sexta-feira
Data: até 28 de novembro de 2008
Hora: das 10h às 19h
Local: A Casa - Museu do Objeto Brasileiro
Rua Cunha Gago, 807, Pinheiros, São Paulo, SP
Informações: 11 3814 9711 | acasa@acasa.org.br

 
 
 
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