Brasília, DF
19 de Setembro de 2008
 

Educadores do AABB Comunidade incentivam inclusão social

Encontro do programa reuniu 240 pessoas em Brasília e mostrou como os profissionais da educação estão mudando a vida de jovens e crianças

Brasília, 19 – “Gostei tanto do programa que me interessei pela pedagogia e hoje estou na faculdade”. “Faz diferença passar a ser valorizados como pessoas”. “O que faltava era a oportunidade de desenvolver a potencialidade de cada um”. Os depoimentos de Márcio, Messias e Maria revelam como os educadores do AABB Comunidade estão ajudando a modificar a realidade de jovens e crianças brasileiras participantes do programa.
Os coordenadores pedagógicos das cidades de Buritizeiro e Cássia/MG e de Anápolis/GO participaram, na última semana em Brasília/DF, do VI Encontro de Educadores do AABB Comunidade. Entre agosto e setembro deste ano, a Fundação Banco do Brasil reuniu cerca de 450 coordenadores pedagógicos em três edições do evento. As outras duas ocorreram em Fortaleza/CE e Florianópolis/SC.

O objetivo dos seminários foi discutir novos procedimentos pedagógicos a partir de temas como o Sistema Nacional de Medidas Socioeducativas, a política de assistência social e a educação inclusiva no Brasil.

Para o gerente de Educação e Cultura da Fundação Banco do Brasil, Marcos Fadanelli, as inovações propostas pelos coordenadores pedagógicos do programa são surpreendentes e demonstram o grau de envolvimento desses profissionais. “Eles buscam modos de fazer diferenciados para aquilo que precisa ser feito”, afirma. Ele destaca as iniciativas que propõem o envolvimento familiar, a tomada de decisões no âmbito do programa, a realização de eventos que envolvem expressões artísticas e aqueles ligados à preservação do meio ambiente.

Inclusão - O AABB Comunidade é um programa de complementação escolar realizado pela Fundação BB, pela Federação das Associações Atléticas Banco do Brasil (Fenabb) e parceiros locais. Envolve atividades educativas, esportivas e lúdicas, além de reforço alimentar e acompanhamento médico-odontológico.

Realizado desde 1987, o programa está presente em 393 municípios e inclui 51.539 crianças e jovens de 7 anos
a 18 anos incompletos, em risco de exclusão social. Os participantes são atendidos por 3.846 educadores.

O jovem Márcio de Carvalho da Silva, 21 anos, é o coordenador pedagógico do programa em Buritizeiro, norte de Minas Gerais. No entanto, entre 14 e 15 anos, ele foi um educando do AABB Comunidade. “Passei a gostar muito do programa e por isso me interessei pela pedagogia”. Márcio acabou de ingressar no curso na Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes).

Filho de pais sem muito estudo, ele diz que os quatro irmãos sempre foram incentivados a dar valor à educação. “Mas eu era um aluno que não era muito santo. Dava muito trabalho, pois era gago e os colegas sempre faziam brincadeiras com isso”.

No AABB Comunidade, no entanto, por meio da arte, ele foi incentivado a perder a inibição, a ter mais auto-estima e a se descobrir um líder. Tanto que foi convidado para coordenar o programa, que vinha passando por dificuldades administrativas.

“Não há mais evasão” – Hoje, poucos meses depois que assumiu o cargo, conseguiu parcerias para reformar o prédio da AABB na cidade, renovou o convênio com a Fenabb, que estava há cinco anos sem formalização, e conseguiu elevar o número de educandos de 40 para 120. O número de educadores também cresceu: de dois para dez. Às atividades já realizadas pelo programa, acrescentou aulas de violão, crochê e bordado. Os monitores contratados também são ex-alunos do programa.

“Não há mais evasão e tratamos com muito carinho aqueles alunos que eram trabalhosos como eu fui um dia. Aprendi que a melhor estratégia para lidar com eles é o diálogo e as lições de vida que posso transmitir”.
Já em Cássia, também em Minas Gerais, o AABB Comunidade abarcou o trabalho que já vinha sendo realizado pelo maestro Heitor Combat, hoje com 96 anos. A experiência foi contada pelo coordenador pedagógico do programa na cidade, Messias Donizete Faleiros, 31 anos. Messias foi aluno do maestro. Com ele aprendeu clarineta, sax e canto. Mais tarde, foi seu assistente. Atualmente, ele estuda clarineta na Escola Villa-Lobos, em Ribeirão Preto/SP.

Como o público do maestro era parecido com o do AABB Comunidade, ele convidou o antigo mestre para ser monitor no programa. Assim, quando entram no programa, as crianças começam a ter aulas de iniciação musical. Depois, à medida que se desenvolvem, são remanejadas para classes de flauta doce, coral e banda, criada com o aproveitamento de instrumentos abandonados.

A música como diferencial - Hoje, as crianças e adolescentes do AABB Comunidade já dispõem de 35 instrumentos adquiridos por meio de leis de incentivo à cultura.

“Nosso diferencial é que todos os participantes do AABB Comunidade são envolvidos com a música. E a gente percebe como isso faz diferença para eles, que passam a ser valorizados como pessoas e deixam de lado o preconceito de ser ‘de baixa renda’”, afirma.

Em Cássia não há evasão no AABB Comunidade e, nas escolas, o melhor desempenho dos alunos é evidente. Messias conta que há depoimentos de pais atestando que seus filhos se sentem importantes. “Eles têm orgulho de vestir o uniforme do programa e de andar pelas ruas”.

Se integrar o programa pode mudar tanto a vida de uma criança ou de um jovem, o que fazer depois que se completa 18 anos? Esta foi a grande inquietação que moveu a coordenadora pedagógica Maria Martins Lisboa, de Anápolis (GO), nos últimos anos. Foi assim que começou a pensar em estratégias para inserir os ex-alunos no mercado de trabalho.

“Percebi que ao chegar aos 15 anos, muitos saiam do programa antes do término para ajudar na renda familiar. Só que os empregos que conseguiam depunham contra sua dignidade. Eles eram explorados e ganhavam muito pouco”, diz.

Parcerias de sucesso - Foi então que Maria teve a idéia de procurar empresas locais, incluindo o Banco do Brasil, para garantir vagas de estágio ou emprego aos egressos do AABB Comunidade. Em quatro anos, cerca de 80 jovens já garantiram seu espaço no mundo do trabalho, por meio de parcerias firmadas com o Rotary, com o Sistema S, com o BB, padarias e outros estabelecimentos.

O Sistema S foi além e oferece 20 vagas por ano aos concluintes do programa. Para 2009, planeja-se a abertura de dois cursos dirigidos aos alunos do AABB Comunidade, nas áreas de costura industrial e marcenaria.
Tantos resultados positivos fazem Maria Lisboa perceber que está no caminho certo. “Eles são de família de baixa renda, mas cheios de potencialidade. O que faltava era a oportunidade de colocá-las em prática. Isso o AABB Comunidade está proporcionando. Assim, o programa cumpre com seu objetivo de transformar a realidade social e cada um transforma sua própria história de vida”, diz.

 
 
 
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