Brasília, DF
8 de Dezembro de 2008
 

Catadores paulistas fazem campanha de coleta seletiva

Cadeia da reciclagem da mesorregião de Piracicaba recebe investimentos sociais da Fundação Banco do Brasil

Brasília, 8 - Uniformes, panfletos e assunto na ponta da língua. Munidos desse arsenal, 180 catadores de materiais recicláveis, em Limeira (SP), indo de casa em casa, estão bombardeando a população com informações sobre a importância de separar os materiais recicláveis do lixo orgânico. O batalhão, que também alerta a comunidade sobre o impacto do despejo de reutilizáveis no aterro sanitário, é composto por  agricultores, bóias-frias, donas-de-casa e desempregados. São pessoas que, se antes estavam em situação de risco de exclusão social, hoje trabalham na cadeia produtiva da reciclagem.    

A  campanha que busca fortalecer, na prática, a coleta seletiva da cidade, teve início no último dia 3 e integra a ampliação do projeto Reciclar Solidário, iniciativa da Prefeitura Municipal de Limeira que conta com a parceria da Rede Solidária – implementada pelo Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Tecnológico, Educacional e Associativo (Ibraes), com recursos da Fundação Banco do Brasil.

“Aproximadamente 45 mil quilos vão, todo dia, para o aterro sanitário. Estão enterrando milhões de reais por ano”, lamenta Antero Leite Tavares, consultor técnico do Ibraes. Ele estima que, diariamente, os cerca de 300 mil habitantes de Limeira, importante pólo industrial do leste paulista, produzam 150 t de resíduos sólidos. Deste total, 30%, cerca de 45 t, são de materiais reutilizáveis que valem, por baixo, entre 10 e 20 centavos o quilo.

Experiência coletiva – De acordo com a assistente social Vanderléa Aparecida Serrano Diogo, superintendente técnica do Centro de Promoção Social Municipal (Ceprosom), responsável pela coordenação do projeto, um dos objetivos do Reciclar Solidário é promover a organização dos catadores, os eco-coletores, como se auto-identificam, em cooperativas. O trabalho, complexo, é realizado gradativamente, respeitando  as  diferentes etapas do processo de mobilização. “Nós não começamos com a perspectiva de transformar os grupos imediatamente em coooperativas”, explica.

Léa, como é mais conhecida, explica que a prefeitura disponibiliza carrinhos e uniformes para os catadores que garantem ou complementam suas rendas com a venda de materiais reutilizáveis. Por outro lado, em reuniões semanais, eles compartilham informações e desenvolvem atividades como teatro, artesanato, esporte e palestras. A idéia é contribuir com a elevação da auto-estima dos profissionais que convivem diariamente com o preconceito e a invisibilidade social.

Os encontros, coordenados pela ecóloga Silvana Oliveira, buscam a inserção social dos participantes e a maturação de uma vivência coletiva. O resultado é que grupos informais de catadores vão se organizando, respeitado o tempo de cada um. “Já são  nove  grupos de eco-coletores, que se reúnem, semanalmente, em  nove  centros comunitários”, diz Silvana.

Eco-coletores - No grupo de catadores do bairro Parque Hipólito, dignidade e cidadania dão o tom das trocas semanais. Vicentina de Fátima Rocha, 51 anos, se emociona ao lembrar o feriado de 7 de setembro de 2008, primeira vez em que participou do desfile do dia da independência. No seu tempo de menina, conta, só desfilava quem tivesse o uniforme, caro demais para ela. “Realizei meu sonho de criança; parecia que eu flutuava", relembra. Desde 2007, os catadores levam sua mensagem à comemoração cívica.

A convivência também transformou a vida da dona-de-casa Tereza Aparecida Gomes, 51 anos. “Com o que aprendi aqui comecei a ver a importância da reciclagem e também de ocupar minha mente, já que antes de começar esta atividade eu tinha depressão. Hoje, ao lado de minhas duas filhas, dou palestras na escola de minha neta”, fala sorrindo, ao lembrar que a menina tinha vergonha da atividade da avó. Coisa que ficou no passado.

Rede Solidária - Com os grupos amadurecidos pelas experiências coletivas, é a hora do projeto Rede Solidária entrar com os cursos de cooperativismo, educação socioambiental, organização e gestão de empreendimentos solidários. O trabalho, então, prossegue com a assessoria técnica aos grupos informais, estimulando a criação de cooperativas e a filiação à Cooperativa Central de Reciclagem Solidária – Cooceres.  

O consultor do Ibraes acredita que um dos maiores desafio da Rede Solidária é transformar os catadores em gestores de seus empreendimentos solidários e eliminar a figura do atravessador. “Quando eles passam a comercializar diretamente com as indústrias, o aumento dos preços dos produtos deles é fantástico, entre 100 e 150%”, afirma Antero.

Léa vê a perspectiva do aumento de renda como um estímulo e tanto, no processo de mobilização dos eco-coletores. “Quando eles conversam com a Cooperativa Central e ficam sabendo quanto vão ganhar, os seus olhos brilham”. Para a assistente social, isso pode ser verificado, inclusive, no crescente aumento do número de pessoas nos grupos. “No início, eram 15 catadores e hoje já são cerca de 200”.  

Investimentos sociais - O projeto Rede Solidária capacita e assessora catadores de materiais recicláveis, visando proporcionar renda digna e qualidade de vida para esses profissionais. A iniciativa dá continuidade ao projeto Reciclagem Solidária, iniciativa do Ibraes que, em 2005, criou a Cooperativa Central de Reciclagem – Cooceres com recursos da Fundação Banco do Brasil.

Instalada em Limeira, a Central comercializa, diretamente com as indústrias de beneficiamento, a produção de cooperativas filiadas das microrregiões de Campinas, Limeira, Piracicaba e Rio Claro. Desde 2004, a Fundação Banco do Brasil já realizou investimentos sociais de R$1,075 milhão no fortalecimento da cadeia produtiva da reciclagem na mesorregião de Piracicaba.

 

 
 
 
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