Meninas de Porto Murtinho (MS) cantam
pela valorizaçãoda cultura, da auto estima
e da inclusão social


Joseane Polizér Joseane Polizér
A falta de audição das gêmeas Lucymara e Lucymeire não impediu que elas integrassem um dos mais conhecidos corais de Mato Grosso do Sul. A coordenadora e professora Joseane Polizér se empolga com o trabalho desenvolvido no coral

Em Porto Murtinho, pequena cidade de Mato Grosso do Sul que faz fronteira com o Paraguai, um grupo de 80 meninas é motivo de orgulho e admiração por parte da população local. Elas têm entre sete e 16 anos, cantam em português, espanhol e em guarani e estão gravando o primeiro CD profissional.
São as “Meninas Cantoras de Porto Murtinho” – coral que nasceu da necessidade de afastar crianças e adolescentes de situações de risco, além de buscar o reforço da auto-estima e a inclusão social de meninas com deficiências leves. A maioria das participantes está incluída em projetos sociais do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) como o Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI) e o Bolsa Família.

O coral surgiu em junho de 2005 por iniciativa da Secretaria Municipal de Assistência Social e Cidadania, em parceria com uma escola da cidade, e faz parte das atividades socioeducativas do núcleo do PETI em Porto Murtinho. No repertório, 50 canções de estilos variados como MPB, sacra e, principalmente, a música regional sul-mato-grossense, além de algumas em tupi e em espanhol.

O coral passeia por “Aquarela do Brasil”, de Ary Barroso; “Chalana”, de Almir Sater; “Tupi”, de Hélio Ziskind; “Mirando atras”, do grupo espanhol Taxi. As aulas acontecem duas vezes por semana e são coordenadas pela professora e cantora Joseane Poliézer, com a regência de Luiz Quirino de Oliveira, maestro renomado que se desloca da capital Campo Grande, com freqüência, para trabalhar com o coral.

Pequenas cantoras - A falta de audição não impediu que as gêmeas Lucymara e Lucymeire Auxiliadora Romã da Silva, de 11 anos, integrassem aquele que é um dos mais conhecidos corais de Mato Grosso do Sul. Há três anos no projeto, elas não se intimidaram frente às perguntas que as colegas faziam no início, curiosas sobre o aparelho auditivo que as duas usam. “Nascemos assim, sem ouvir, e por isso precisamos dele”, explicam naturalmente as meninas que, de todo o repertório que ensaiam, preferem a música “Mercedita”, da dupla sertaneja Belmonte e Amarai. “Ficamos muito emocionadas quando ensaiamos essa canção”, revela Lucymara.

Lílian Silva Beraldo, 15, também está há três anos no coral e é mais uma fã confessa de “Mercedita”. Lílian revela um pouco da realidade do município quando relata que há casos de exploração sexual de meninas e adolescentes, por ser uma área de fronteira. “Por aqui tem muitas jovens grávidas que vão deixar de viver coisas importantes típicas da idade delas”, lamenta. Lílian, que adora cantar, diz que por ser “agitada e animada gostou de cara do projeto”. Sua família é beneficiária do Programa Bolsa Família.

A timidez de Kátia Mara Ramires Cáceres não a afastou das aulas semanais de canto e nem mesmo das apresentações em praças, teatros e auditórios. A menina de 11 anos passou a gostar tanto do coral que já até escolheu sua profissão: “Pretendo ser cantora ou professora de música e sinto que estou me preparando para isso”, diz orgulhosa a pequena fã de música sertaneja.

As gêmeas de Porto Murtinho, Lucimara e Lucimeire e as jovens Lílian e Kátia não têm em comum apenas o gosto por melodias e harmonias. Assim como muitas meninas que freqüentam o coral, elas são de famílias pobres. Algumas das integrantes do coral, inclusive, encontravam-se em situação de risco social.

Começo - “Elas chegavam assustadas e arredias e hoje a sociabilidade de todas salta aos olhos. Amor não enche a barriga, mas abranda as dores”. A frase é da coordenadora e professora Joseane Polizér.
Funcionária de uma empresa de informática, Joseane se aposentou precocemente, aos 46 anos, devido à LER (Lesão por Esforço Repetitivo). Mas, não se abateu e encontrou outra forma de continuar trabalhando.
Apaixonada por música desde cedo, integrante de vários coros de igreja, Joseane aceitou a proposta de coordenar um projeto que estimulasse a música entre as meninas e jovens da cidade, incentivando a solidariedade, o companheirismo e a esperança no futuro. “A música é sentimento e o sentimento move as pessoas”, assegura Joseane. Para ela, as viagens do grupo para apresentações em outras cidades - como Campo Grande e Dourados (MS) e Presidente Prudente (SP), entre outras - são fundamentais para que “todas ampliem horizontes e conheçam outras realidades”.

As meninas cantoras também participam das demais atividades socioeducativas do PETI oferecidas no município como reforço escolar, aulas de informática, de língua espanhola, inglesa e cursos de trabalhos manuais, além de acompanhamento psicopedagógico.

O coral já gravou um CD experimental com músicas natalinas. No momento, o grupo prepara-se para participar da gravação do primeiro CD profissional, com músicas sacras, juntamente com 100 vozes de corais adultos de Campo Grande. Em novembro, o grupo estará no Festival Internacional de Música Vocal da América Latina - Cantapueblo 2008 - que acontecerá na cidade do Rio de Janeiro (RJ). O evento não é uma competição, mas uma troca de experiências, quando as meninas de Porto Murtinho cantarão músicas regionais.

Cidade - Localizada na região Sudoeste de Mato Grosso do Sul, Porto Murtinho conta com 13.230 habitantes. A cidade tem uma população miscigenada devido à constante migração recebida do país vizinho, Paraguai. “O povo murtinhense é muito musical e temos a primazia de falar três idiomas devido à influência da cultura paraguaia”, explica Joseane que tem planos de formar, agora, um coral de meninos.

Ana Soares
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