Para erradicar a fome no mundo basta decisão política, afirma ministro Patrus Ananias

Na Alemanha, ele recebeu o 1o. Prêmio Políticas do Futuro, concedido pela ONG World Future Council

Fotos: Roberta Caldo / MDS


Foto Esquerda: Ministro Patrus Ananias recebe o 1o. Prêmio Políticas do Futuro de representante da Nigéria
Foto Direita: Ministro Patrus Ananias, a diretora do Departamento de Justiça do World Future Council, Maja Göpel, (à dir), a assessora Adriana Aranha (à esq) e a tradutora Eva Barretto, em Hamburgo

“O problema para erradicar a fome é falta de decisão política”. Com estas palavras, o ministro do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Patrus Ananias, encerrou o discurso de agradecimento do 1o. Prêmio Políticas do Futuro (Future Policy Award) na sede da Prefeitura de Hamburgo, norte da Alemanha, na noite desta quinta-feira (1/10). O prêmio foi concedido pelo World Future Council às políticas de segurança alimentar estabelecidas pela lei municipal 6.352, de 15 de julho de 1993, no Município de Belo Horizonte. As ações foram implantadas durante a gestão do ministro Patrus à frente da Prefeitura da capital mineira. Participaram da cerimônia cerca de 200 pessoas, incluindo o embaixador do Brasil na Alemanha, Everton Vargas, e outras autoridades consulares.

“Minhas origens, na área rural de Bocaiúva (MG), me colocaram em contato com o flagelo dos retirantes que fugiam das secas em busca da sobrevivência”, contou o ministro no início do discurso. Ele falou sobre a experiência pública dos Restaurantes Populares, que começou em 1994, quando a primeira unidade foi inaugurada por ele – então prefeito de Belo Horizonte. A cidade conta hoje com três unidades que, juntas, servem 15.000 refeições por dia. Atualmente, o programa é parte das ações do Fome Zero e integra as políticas de segurança alimentar e nutricional do Governo Federal. Há 69 unidades em funcionamento com recursos do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) em todo o território nacional, beneficiando 110 mil pessoas por dia. O Ministério tem ainda outros 60 convênios já firmados com prefeituras para instalação de equipamentos semelhantes.

Para apresentar o principal premiado da noite, o Trio Bossa Nova, de música brasileira, interpretou “Aquarela do Brasil” na sede da Prefeitura de Hamburgo, um marco histórico da cidade que não foi destruído com o bombardeio da Segunda Guerra Mundial. A representante da Nigéria no Conselho, Hafsat Abiola-Costello, leu um poema do mineiro Carlos Drummond de Andrade e lembrou que no país dela muitas pessoas ainda passam fome. Ela agradeceu, emocionada, os anos de serviço público do ministro Patrus Ananias.
O ministro enfatizou que todas as conquistas são compartilhadas e destacou o trabalho da assessora do Fome Zero no MDS, Adriana Aranha, que o acompanhou na viagem a Alemanha. Ela trabalhou na Prefeitura de Belo Horizonte e deu continuidade à implementação da política de segurança alimentar no Governo Federal desde o início do Ministério.

Explicando a rede de programas e políticas sociais, Patrus Ananias informou alguns resultados da superação da fome e da pobreza no Brasil. “Entre 2003 e 2008, 19,5 milhões de pessoas deixaram a extrema pobreza, e a desigualdade diminuiu fortemente, segundo a FGV. Em 2005, atingimos a Meta do Milênio de redução da extrema pobreza. O governo brasileiro, então, adotou para si metas mais ambiciosas: redução da extrema pobreza a um quarto e erradicação da fome até 2015”, relatou.

E usou palavras fortes ao falar da crise: “O volume de recursos empregados pelos governos para fazer frente à crise econômica mundial (da ordem de trilhões de dólares) nos mostra que o problema para a erradicação da fome não é a falta de recursos, mas de decisão política”.

No encerramento, o ministro Patrus Ananias lembrou as palavras de dois nomes ligados à paz mundial: Mahatma Gandhi - “Façamos em nós as mudanças que queremos nos outros” - e Martin Luther King - “Nós não somos o que queremos ser, não somos ainda o que vamos ser, mas nós já somos mais do que éramos”.
Escolha - No ano passado, os conselheiros do World Future Council elegeram o tema segurança alimentar em função da crise de alimentos mundial e o crescente número de pessoas com fome ao redor do globo. Cinco iniciativas da Ásia, África, América Latina, América Central e Europa foram indicadas e o prêmio principal foi entregue ao Brasil. A experiência da prefeitura de Belo Horizonte foi escolhida como exemplo de solução local que pode ser colocada em prática por outros governos.

Os conselheiros do World Future Council avaliaram também que a atual estratégia Fome Zero, do Governo Federal, é um desdobramento das políticas implantadas na prefeitura de Belo Horizonte. Um filme mostrando as ações foi apresentado na cerimônia de premiação e está disponível no endereço http://tiny.cc/Fol7h

Parcerias – A convite da Prefeitura de Hamburgo e do World Future Council, o ministro Patrus Ananias, a delegação italiana e representantes do Conselho fizeram um passeio de barco no rio Elba, conhecendo a zona portuária de Hamburgo. Além de trocar experiências e relatar as ações de segurança alimentar e nutricional, assistência social e transferência de renda do governo brasileiro, o ministro Patrus concedeu uma entrevista para a TV alemã NDR. Na mensagem final da matéria, ele afirmou: “Nos banhamos nas mesmas águas, respiramos o mesmo ar. Precisamos universalizar nossas ações, preservando nossos valores, nossas culturas, nossa identidade nacional, para construirmos um mundo de justiça e paz”. O material foi exibido na noite desta quinta-feira (1/10) no Hamburg Journal, o noticiário local.

Durante almoço no local onde os conselheiros estão reunidos, Adriana Aranha, assessora do Fome Zero no MDS, conversou com Maria Grazia Mammuccini, representante de uma ONG de Toscana, no norte da Itália, e ficaram acertadas visitas de campo para troca de experiências. A região tem um forte trabalho de economia solidária com pequenos agricultores e já mantém parceria com o MDS para transferência de tecnologia de cisternas.

À tarde, antes da entrega do prêmio, o ministro Patrus concedeu entrevista para o principal jornal da cidade – Hamburger Abendblatt. Ele explicou a criação da lei em Belo Horizonte, lembrando que o direito ao abastecimento alimentar já estava incluso na Lei Orgânica do Município, da qual foi relator como vereador. Ele também reforçou que a experiência de Minas Gerais ganhou o plano nacional com a criação do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, em 2004. “Quando o presidente Lula me convidou para o MDS, ele tinha a expectativa de implantar as políticas de segurança alimentar de Belo Horizonte no Brasil, mas foi além e integrou outras áreas”, reforçou.

O ministro Patrus Ananias encerrou a entrevista explicando a importância do prêmio: “Eu vim aqui com o coração aquecido. Estou muito grato pelo reconhecimento de um trabalho coletivo, porque na vida ninguém faz nada sozinho. Tenho esperança que em breve ninguém mais vai receber um prêmio por estar lutando contra a fome porque eu espero que a fome se torne apenas uma simples lembrança do passado”.

World Future Council - O World Future Council é uma Organização não governamental criada em 2004 pelo escritor sueco e ativista Jakob von Uexkull. Ele anunciou que a premiação da entidade - que trabalha para um futuro sustentável nas áreas de meio-ambiente, paz, governança, desenvolvimento humano e direitos humanos – será anual a partir de agora. Atualmente, o Conselho reúne mais de 8 mil organizações de 200 países com o objetivo de disseminar soluções a longo prazo para os problemas globais. A sede fica em Hamburgo, na Alemanha, e a ONG possui escritórios em Londres (Inglaterra), Bruxelas (Bélgica), Washington (EUA) e Nova Delhi (Índia).

O objetivo do prêmio é sensibilizar outros líderes a tratar do tema da fome. As experiências de Cuba - projeto de agricultura urbana – e da Itália – preservação de espécies locais e desenvolvimento do agroturismo – também foram premiadas. Concorreram ainda experiências de sustentabilidade orgânica de Kerala (Índia) e da Etiópia.

Roberta Caldo

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