Em centros como esse, são oferecidos serviços de assistência técnica e formação aos agricultores urbanos e periurbanos. Ali também encontra-se apoio à implantação de empreendimentos produtivos solidários e agroecológicos. O Ministério do Desenvolvimento Social iniciou o processo de implantação dessas unidades no ano passado. Com investimento de R$ 6 milhões, já foram inaugurados 12 centros. Outras novas parcerias poderão ser firmadas ainda neste ano. O MDS dispõe de R$ 8 milhões para convênios por meio de edital público.
O CERAUP de Maringá é coordenado pelo professor doutor da Universidade Estadual de Maringá, engenheiro agrônomo Edinaldo Michellon, e conta com o trabalho de três agrônomos contratados, um psicólogo, um assistente social, um acadêmico da área de Educação Física, além de 10 estagiários do curso de Agronomia. Atualmente, essa equipe está em fase de elaboração da metodologia de trabalho e visitação das hortas. A expectativa é de que o centro atenda – além das 300 famílias que hoje se beneficiam do programa de Hortas Comunitárias – mais 66 grupos familiares.
Com a nova parceria, serão implantadas novas 15 hortas comunitárias na região da Associação dos Municípios do Setentrião Paranaense (AMUSEP), sendo que nove destas serão instaladas em Maringá, três em Sarandi e três em Paiçandu, cidades vizinhas.
Hortas em Maringá – O programa de Hortas Comunitárias em Maringá é uma das ações do Programa Maringá Saudável, criado pela atual administração municipal, que visa o resgate da saúde e da qualidade de vida e integra três ações: a re-educação alimentar (da qual fazem parte as hortas comunitárias); o espaço saúde, que promove ações de conscientização a respeito da saúde e realização de exames em vários bairros; e, por fim, a instalação de academias para a terceira idade, com equipamentos usados para exercícios físicos instalados em via pública.
Para que uma horta comunitária seja criada, a Prefeitura cede um terreno público que esteja vazio, em regime de comodato, à associação de moradores do bairro onde ela será instalada. Em geral, a própria Prefeitura faz o preparo do terreno, a instalação de cercas e o sistema de irrigação, fornece as sementes, mudas e o adubo orgânico. Também mobiliza a comunidade pro meio de reuniões de esclarecimento sobre o programa, preparando as famílias cadastradas para participarem do projeto.
O objetivo principal é proporcionar, aos moradores daquela localidade, acesso a alimentos nutritivos. O que é produzido na horta serve para o consumo das famílias que nela trabalham e o excedente é comercializado. “Esse processo de venda tem proporcionado a sobrevivência de muitos dos envolvidos com a horta comunitária”, conclui o gestor do programa, o engenheiro agrônomo José de Oliveira Albuquerque, lotado na Secretaria de Serviços Públicos da Prefeitura de Maringá.
Segundo Albuquerque, algumas famílias têm conseguido entre R$ 200 e R$ 350 por mês. Ele destaca que a produção é feita com base no sistema de produção agroecológica, sem o uso de agrotóxico; e o controle de pragas e doenças é feito com defensivos igualmente orgânicos, que não agridem o homem, nem a natureza.
Cleide Alves da Silva, 58 anos, é presidenta da Horta Comunitária do Conjunto Itatiaia/Atlanta. Em junho de 2007, após um ano de reuniões, estudos e visitas a hortas de outros Municípios, começou o mutirão num terreno abandonado do bairro, que foi cedido para a implantação do programa. São 3,4 mil metros quadrados que serviam de depósito de lixo e que se transformaram em 28 canteiros de 100 a 120 metros quadrados, cada um.
Toda a comunidade foi convidada a participar da iniciativa. Cartazes foram colados no posto de saúde, no comércio, nas igrejas. Cleide conta que existe uma ata e um estatuto que são respeitados. “Alguns que começaram desistiram por causa das exigências. Quem é responsável pela horta não pode deixar de cuidá-la”.
Hoje são 22 famílias que cuidam dos 28 canteiros, sendo que um deles é destinado ao cultivo de plantas medicinais. Além do consumo familiar, a produção excedente é comercializada. Cleide relata que a produção da horta que cuida, alimenta quatro famílias (a dela, a dos dois irmãos e a do filho) e ainda sobra para vender. Ela é responsável também pelo canteiro fitoterápico que produz hoje mais de 30 espécies de temperos e plantas medicinais. “A comunidade já conhece e busca no próprio local” se empolga.
Cleide Silva é um exemplo de que a proposta do Programa Maringá Saudável tem trazido bons resultados. Aposentada por invalidez por conta de um câncer de mama, não se adaptou às terapias convencionais e começou a fazer pintura de tela. Com a horta comunitária, deixou a pintura e se envolveu com o trabalho na terra. “Hoje, não me imagino sem mexer com o meu canteiro”. Levantamentos feitos pela Prefeitura constataram que diminuiu o número de atendimentos médicos e também o volume de medicamentos adquiridos pelos maringaenses.
Outra história que chama a atenção, conta Cleide, é de uma das senhoras que cuida de outros canteiros. Depressiva, ela tomava quatro medicamentos, inclusive para conseguir dormir. Atualmente, depois que se envolveu com o trabalho da horta comunitária, só precisa de um remédio. “O trabalho tem resolvido problemas de stress e depressão”, relata Cleide.
Há dois anos, Alberto Luiz do Prado, 57 anos, também integra o programa. Ele é presidente da horta do Conjunto Cidade Alta/Santa Felicidade que fica em terras embaixo das torres de transmissão da Eletrosul – Centrais Elétricas S.A. Ele conta que a empresa entregou para a comunidade a horta pronta. “Com cerca, portão, cano, poço artesiano, caixa d’água”, resume Prado. A semente e o adubo são fornecidos pela Prefeitura.
São 18 pessoas que cuidam dos canteiros nessas terras. Ali plantam couve, alface, rabanete, repolho e temperos, por exemplo, sem o uso de agrotóxico. Alberto diz que dá para arrecadar de R$ 70 a R$ 150 por mês. “Está todo mundo contente. Os que estão no programa não saem”. Ele conta que alguns são aposentados e outros não, mas que todos têm famílias numerosas.
Prêmio - O programa Hortas Comunitárias de Maringá foi contemplado, em fevereiro deste ano, pela Agência Adventista de Desenvolvimento e Recursos Assistenciais (Adra) com um prêmio de US$ 25 mil (25 mil dólares) que serão investidos na implantação de outras hortas comunitárias e melhorias das já existentes na cidade.
Foram inscritos vários projetos sociais na América do Sul. Desses, apenas dois foram premiados, um da Bahia e o de Maringá. Uma das ações da Adra é investir financeiramente em projetos de cunho social que priorizem as necessidades da comunidade, premiando os programas que comprovem sua eficácia a médio e longo prazos. Essa ação se enquadra no que a agência entende como programas que asseguram a sobrevivência da comunidade.
“É justamente nesse contexto que se encaixa o Centro de Referência em Agricultura Urbana e Periurbana (CERAUP)” lembra o diretor da Secretaria Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional do MDS, Marcelo Piccin. Ele destaca que “foi justamente com o objetivo de ampliar a produção de alimentos dentro das cidades e no seu cinturão verde que o MDS estimulou a criação dos Centros de Apoio a Agricultura Urbana e Periurbana (CAAUP) em 12 regiões metropolitanas brasileiras. A meta é envolver diretamente 15 mil famílias de agricultores urbanos e periurbanos”, destaca Piccin, ressaltando que o CAAUP desenvolve projetos de produção com as famílias de agricultores e cumpre papel importante de articulação das ações já desenvolvidas de produção de alimentos nas cidades brasileiras.
Adriana Scorza
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