Entrevista exclusiva com o cineasta Joel Zito, autor do documentário “Cinderela, Lobos e um Príncipe Encantado”.

 

 

MDS - Para realizar o documentário o senhor realizou um trabalho de pesquisa em algumas cidades brasileiras e do exterior. Quais foram estas cidades e o que elas têm de comum na questão da exploração sexual de crianças e adolescentes?

J. Z - No Brasil, filmei em Fortaleza, Recife, Natal, Salvador, além de balneários como Porto de Galinhas e Pipa. Eu creio que as bases da exploração sexual de crianças pelo turismo sexual de estrangeiros, tema do meu filme, se apoia fundamentalmente na miséria e na cumplicidade machista de vários segmentos da população como o sistema judicial, do legislativo e do executivo locais, e das polícias civil e militar. Além de contar com uma certa apatia da sociedade civil. É, portanto, um problema complexo, sem causa única.

MDS - O Governo Brasileiro tem avançado na questão do combate a este crime?

J.Z - É difícil dar respostas categóricas. Existem, dentro do governo brasileiro, pessoas qualificadas e orgãos atentos e atuantes. Entretanto, não creio que exista transversalidade em todos os setores de governo. Creio que falta uma atuação mais rigorosa, associada aos demais ministérios, em parceria com a sociedade civil,além das boas campanhas públicas que existem, e podem ser vistas nos aeroportos, bares e hotéis.

MDS - A população pode contribuir para coibir esta prática? De que forma?

J.Z - Embora eu não creia que a sociedade civil seja responsável pela situação de calamidade que encontrei em várias capitais e estados, é fundamental incentivar uma tomada de consciência de empresários, comerciantes, meios de comunicação e associações de moradores, entre outros, diante do problema. Eu tenho a sensação que o segmento majoritário da classe média na sociedade civil brasileira não considera esse problema como seu, é um problema dos pobres, negros e de maus estrangeiros. Precisamos de uma concepção maior para ajudar a resolver o problema. Infelizmente, a concepção de que tudo é responsabilidade do Estado é um problema. Uma auto-responsabilização da sociedade civil através da participação pública dos problemas de sua realidade é urgente. A classe média tende a se isentar, a se enjaular ou esconder entre os muros diante deste tipo de problema.

MDS - Qual a importância de iniciativas como o Serviço de Enfrentamento ao abuso e à exploração sexual de crianças e adolescentes, do MDS?

J.Z – Fundamental.


MDS - Algo mais a acrescentar de sua experiência com a produção deste documentário?

J.Z - Creio que um aspecto estrutural do problema é a pobreza, e a profunda desigualdade de renda e de acesso aos equipamentos sociais entre pobre e ricos, negros e brancos. Quando falo de políticas públicas, eu quero chamar a atenção para a necessidade de se aprofundar políticas redistributivas, de pensar outras possibilidades a exemplo de Bolsa Família, cotas nas universidades e outras que já existem.

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