A articulação de ações entre o poder público e o empresariado local em torno de cursos profissionalizantes para beneficiários do Programa Bolsa Família - coordenado pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) - tem obtido resultados positivos em Nova Lima, município da grande Belo Horizonte (MG). No final de 2008, duas turmas – uma, de formação básica para cozinha profissional, e outra, de mecânica para motos e autos – foram finalizadas. Mais de 50 pessoas receberam qualificação profissional e passaram a ter chances reais de conquistar um emprego.
Maria de Fátima Aguiar, coordenadora dos programas de transferência de renda de Nova Lima, revela que a parceria tem sido fundamental para o sucesso da ação. “De um lado, estimula a inclusão do beneficiário no mercado de trabalho. De outro, possibilita ao empresário inserir-se no contexto da responsabilidade social”.
Vida Nova - A realização de cursos profissionalizantes faz parte dos objetivos traçados pelo programa Vida Nova, da Prefeitura de Nova Lima. Entre suas metas está a promoção, o incentivo e o apoio às famílias dos beneficiários para o ingresso no mercado de trabalho, proporcionando a melhoria nas condições de vida e o resgate da cidadania. A coordenadora lembra que, antes de iniciar as turmas, os beneficiários passam por avaliação psicológica. “O objetivo é de que eles sejam encaminhados aos cursos profissionalizantes com os quais mais se identificam”.
Complementar e integrado ao Bolsa Família, o Vida Nova foi firmado por meio de parceria entre o município e o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Em Nova Lima, 1.631 famílias recebem o Bolsa Família. Em todo o País, cerca de 11 milhões de famílias recebem o benefício.
Segundo FátimaAguiar, a realização dos cursos é financiada com recursos do IGD (Índice de Gestão Descentralizada). O valor é transferido ao fundo de assistência social para apoiar o trabalho da gestão municipal do Bolsa Família. “O custo para o empresário é zero. Ele cede o espaço e instrutores para as aulas”.
Um desses empresários é Edilon José da Silva. Proprietário de uma oficina mecânica, ele promoveu dois cursos em seu estabelecimento e já prepara o terceiro. “A experiência é muito válida. É uma chance de formarmos mão-de-obra especializada, que é escassa na região. Com os cursos, temos conseguido qualificar os alunos. Eles ganham um novo trabalho e nós, empresários, profissionais qualificados”. Quatro ex-alunos já foram contratados por Silva. “Pretendo trazer mais pessoas, assim que for inaugurada a terceira filial da loja”.
Um das prováveis contratadas é Rozângela Antunes Queiroz. A única representante do sexo feminino entre os participantes da turma de mecânica de motos e autos pode vir a ocupar o posto de consultora técnica. “A freqüência de mulheres na oficina tem crescido muito. Seria um fator agregador, uma forma diferenciada de atendimento. Uma mulher que entende de mecânica atendendo outra mulher”, diz Edilon. O empresário planeja a terceira edição do curso, com ênfase em injeção eletrônica, que deve começar nos próximos dias.
Rozângela, que se interessa por carros desde a infância (foi influenciada pelo pai, mecânico) espera ansiosa pela oportunidade. “Seria um sonho. Adoro carros. Aprendi muito cedo o que é um radiador, uma correia dentada. E o curso me deu o fundamental, a prática. Essa oportunidade caiu do céu”, comemora. Ela aguarda ansiosa pela contratação. “Se acontecer será um presente de Deus”.
Quem também aguarda por uma oportunidade é Ronaldo Caetano de Oliveira. Sobrevivendo de “bicos”, acredita que a partir do curso terá novas oportunidades. “Sabia muito pouco sobre carros. Ainda preciso de um pouco de prática. Mesmo assim já estou dando “pitaco” no carro dos outros. Pretendo fazer o curso de injeção eletrônica. Quanto mais aprendizado, melhor”.
Cozinha profissional – Um restaurante da cidade foi outro estabelecimento que abriu suas portas aos beneficiários do Bolsa Família. No local, foi realizado o curso Formação Básica para Cozinha Profissional. Vinte alunas passaram três meses revezando-se entre fogão e panelas, manuseando alimentos, aprendendo noções de higiene e boas práticas.
Dividida em três módulos, a capacitação englobou, entre outros aspectos, competência comportamental, parte técnica e empreendedorismo. Fernando Urbano, proprietário do restaurante, disse que o aproveitamento dos alunos foi muito bom. “Registramos um alto nível de freqüência. A motivação demonstrada pelos alunos surpreendeu a todos. A pessoa entende que está dando um salto na vida. Havia um senso de responsabilidade muito grande”.
No ramo da gastronomia há 10 anos, Bernardo Urbano Haddad atuou como instrutor do curso e pôde constatar, no dia a dia, a dedicação dos participantes. “Foi gratificante ver o empenho dos alunos. E o mais importante é que eles tinham consciência de que objetivo do curso era o de conquistar uma profissão. É uma oportunidade e tanto de profissionalização para os beneficiários do Bolsa Família”.
Uma iniciativa que provavelmente abrirá caminhos para a profissionalização é a criação de uma espécie de banco de dados, um “link de acesso”, entre os formandos das turmas e os donos de restaurantes. “O direcionamento será feito exclusivamente para os beneficiários do Bolsa Família participantes do curso”, explica Fernando Urbano. Ainda não há data para o início do funcionamento do banco de dados.
Contrato temporário - Uma das formandas do curso Formação Básica para Cozinha Profissional é Flávia de Freitas. Desde o término das aulas ela espera ansiosamente pela chegada de domingos e feriados. “Fui contratada como temporária nos dias de maior movimento. Estou muito feliz com a oportunidade. O curso me proporcionou um aprendizado para toda a vida. É muito bom trabalhar, mesmo que temporário. Acredito que boas oportunidades não demorem a surgir”.
Para Flávia, um dos momentos mais marcantes foi a solenidade de formatura “Foi muita emoção receber o diploma”. Ela lembra também de um jantar promovido em homenagem ao prefeito. “Foi marcante para todos”.
Elinéia de Fátima Gualberto, parceira de Flávia no curso, conta que mesmo com experiência na área de restaurantes, aprendeu muito. “Foram muitas novidades, tais como noções de higienização, congelamento de alimentos, novas receitas, trabalho em equipe. Foi muito válido. Aprimorei meus conhecimentos”.
Júnia Almeida
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