Marisqueira e moradora do quilombo Caongi, situado no município de Cachoeira (BA), Juvani Nery tem motivos de sobra para se orgulhar. Aos 57 anos, ajudou a criar 10 filhos e oito irmãos trabalhando como catadora de mariscos. Regina Lima, 42 anos, solteira, mãe de quatro filhos, também formou a família “tirando o sustento das rochas” – alusão ao local de onde os mariscos são retirados. Mulheres com histórias parecidas com as de Juvani e Regina e que residem nos municípios de Cachoeira e Maragogipe (BA), na Bahia, terão uma oportunidade para incrementar o negócio e aumentar a renda mensal. Uma perspectiva para melhorar de vida.
Por meio de convênio firmado entre a Secretaria de Desenvolvimento Social e Combate à Pobreza (Sedes), da Bahia, e o Instituto Brasileiro de Educação e Negócios Sustentáveis (Ibens), serão doados 160 “kits marisqueiras” . Eles beneficiarão exclusivamente famílias inseridas no Programa Bolsa Família (coordenado pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome) desses dois municípios. Em Maragogipe, há 5.134 famílias cadastradas, e em Cachoeira, 3.529. As duas localidades mantêm a tradição de forte potencial produtivo e há um mercado consumidor amplo e próximo a elas.
O valor total do investimento é de R$ 420 mil reais. Segundo a assessoria de imprensa da Sedes, a entrega dos kits deverá ser realizada no máximo em um mês, tempo suficiente para trâmites burocráticos.
Composto por um fogão a lenha ecológico, um cubo de pia inox, uma bancada em fibra de vidro para catar mariscos, uma panela de alumínio, uma cesta inox tipo escorredor, um balde plástico, uma tábua e martelete para quebrar mariscos e um suporte para embalagens plásticas, o kit vai proporcionar agilidade ao trabalho das marisqueiras, desde o cozimento dos mariscos até a embalagem final do produto , que é vendido em feiras.
“Vai melhorar 100%”, comemora Regina Lima. Todos os meses, ela pesca cerca de 200 quilos de siri, camarão, camarão branco e ostra, o que rende aproximadamente R$ 150 reais. “Nem sempre a maré está para peixe” ela brinca com o trocadilho. “Por isso, não conseguimos tirar um valor fixo por mês, mas o pouco já ajuda. O kit vai agilizar o nosso trabalho. Em um só lugar poderemos lavar o marisco, cozinhar, embalar e vender. Estou realizada. Não vejo a hora de receber o meu”.
Juvani Nery aponta outro benefício do kit. “Com ele não vou precisar ficar abaixando a todo momento, para manusear os mariscos. Vai diminuir a dor nas costas”. Assim como Regina, Juvani espera que o seu faturamento com a comercialização de ostra e sururu – cerca de R$ 90,00 - aumente.
Além do “Kit Marisqueira” será distribuído também um “Kit Higiene”, que é composto por uma touca de cabelo, uma tesourinha de unha, uma escova de unha, uma escova de dente, um creme dental, uma luva e um avental. Instrumentos fundamentais para que as marisqueiras cumpram as normas sanitárias necessárias ao desenvolvimento da atividade, garantindo qualidade ao produto. “O aspecto da higiene é muito importante. Nosso produto terá mais qualidade. Conseqüentemente, as vendas serão melhores. É um conquista maravilhosa. Seremos reconhecidas. Teremos 'mais moral' quando chegarmos à feira com nossos produtos”,diz Juvani.
Ambas as ações (kit marisqueira e kit higiene) fazem parte do projeto Pescando Renda, implementado pela Sedes. A finalidade é promover a melhoria das condições de trabalho das famílias envolvidas nas atividades da pesca e aqüicultura, por meio de intervenções integradas sustentáveis, nas áreas produtiva e social. Júnia Almeida |