Em março do ano passado, 1.560 moradores de Paço do Lumiar deram alguns passos na direção escolhida por Maria Arcângela, a da profissionalização. Eles concluíram 21 diferentes cursos oferecidos pelo CRAS, como marcenaria, formação de garçons, estamparia, compotas e licores, corte e escova de cabelo, manicure e pedicure, telemarketing, e doces e sobremesas.
Educação - A secretaria de Assistência Social ainda não fez uma pesquisa formal sobre a aceitação desses novos profissionais, mas já confirmou para este ano a realização da terceira edição de cursos. Serão 1.200 vagas para interessados em aprender os ofícios de salgadeiras, cabelereiros, técnicos em informática, manicures, secretárias, eletricistas, entre outros. Para dar mais infra-estrutura aos alunos, o Centro será equipado com computadores e impressora.
Os cursos, que variam entre 40 e 50 horas/aula, devem começar entre o final de março e o início de abril. As disciplinas são escolhidas de acordo com os interesses da comunidade. Os assistentes sociais do CRAS visitam as comunidades e fazem pesquisas sobre o que os moradores gostariam de aprender. “Temos uma demanda muito grande. Às vezes abrimos um curso com 30 vagas e aparecem 80 interessados”, destaca o secretário adjunto de Assistência Social da cidade, Edgard Pantoja. O mais procurado é também o mais longo, que oferece conhecimentos em Informática, e tem duração de três meses. “A informática é referencial. É uma disciplina essencial para realizar concursos”, considera Pantoja.
Cursos não faltaram na trajetória de Maria Arcângela. Antes de se dedicar ao forno e ao fogão, ela aprendeu a arte do biscuit, da estamparia em tecido e até bijuteria. Chegou a vender brincos, colares e pulseiras em alguns bazares organizados no quintal de casa e em viagens a casas de parentes. Mas a dificuldade de expor as peças e conseguir espaço nas lojas a fez desistir do ramo.
A pequena Paço do Lumiar, com 96 mil habitantes, é uma das quatro cidades localizadas na Ilha do Maranhão. Os outros três municípios são Raposa, São José de Ribamar e a capital, São Luís. A população da cidade, que diariamente percorre 21 quilômetros para trabalhar na capital, é a que possui a menor receita per capita do País – são R$ 296 reais anuais por habitante. A informação é do Instituto Brasileiro de Administração Municipal (Ibam).
Para ajudar a reduzir essa estatística, o CRAS foi criado em 2004 – com recursos do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) e funciona em um amplo casarão, dividido em sala para atendimento psicológico, assistência social, sala de reuniões, sala para atendimento ao público, brinquedoteca, biblioteca e quintal. Neste espaço, trabalham duas assistentes sociais, duas psicólogas, dois pedagogos, além de cinco funcionários que atuam na administração e nos serviços gerais.
Além de capacitar, o CRAS ainda tenta dar um empurrãozinho para que seus alunos decolem no mercado de trabalho. A própria Maria Arcângela, depois de freqüentar cursos de administração, higiene e limpeza, deixou o telefone com as funcionárias do Centro, que começaram a repassar encomendas para a aluna aplicada. Muitos dos que têm bom desempenho nas aulas são contratados para trabalhar nas festas e nos eventos que a secretaria de Assistência Social oferece.
A próxima etapa para fomentar a contratação destes novos profissionais é criar o Conselho Municipal do Trabalho e, em seguida, uma agência de empregos. “Fizemos uma pesquisa junto aos comerciantes, que mostraram interesse em apoiar a idéia”, comemora o secretário.
Mas esses não são os únicos passos da cidade em direção ao bem estar dos cidadãos. Segundo o secretário Edgard Pantoja, em 2007 foram criados o Conselho do Idoso, dos Direitos da Criança e do Adolescente e o Sistema de Segurança Alimentar e Nutricional. “A primeira cidade do país a criar esse sistema foi Porto Alegre e a segunda fomos nós. A partir de agora, o prefeito assume a responsabilidade pela segurança alimentar” afirma ele.
Novidade - Atento às ofertas naturais da região, o CRAS de Paço do Lumiar decidiu aumentar as chances de renda. O curso de compotas e licores, ministrado no bairro de Vila Cafeteira, para 30 pessoas, passou a ensinar o cultivo e a conserva de pimenta, produto tradicional e muito consumido nas redondezas.
“Percebemos que todos os rótulos de produtos vêm de outros estados, como Ceará e Piauí”, explica a coordenadora do CRAS, Carla Oliveira. Ela afirma que a vantagem da pimenta é que não é preciso muito espaço, e as pequenas roças e quintais dos moradores da região sempre têm um cantinho de terra para cultivar alguns pés da planta. “Tem gente que vive de Bolsa Família e já está começando a vender pimenta”, destaca a coordenadora. Por enquanto, o comércio é feito entre a vizinhança, mas a prefeitura estuda criar uma cooperativa para organizar a nova atividade.
O projeto de todos que freqüentam os cursos é trilhar um caminho semelhante ao de Maria Arcângela. Em semanas de muito trabalho, ela chega a ter até três encomendas, que variam entre 500 e 1.300 unidades de salgado, cada uma. “Aí é o dia inteiro na cozinha”, brinca. De aluna, passou a ser professora e, só no ano passado, já ministrou três cursos aos aspirantes a salgadeiros do CRAS. Com o dinheiro que ganha, comprou um forno novinho e também o forno de microondas, que sempre quis ter. “Deixei de ser dona de casa e virei uma microempresária. Sou paga pelo meu trabalho. Não me deram só o peixe, mas me ensinaram a pescar”, afirma.
Mariana Moreira
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