CIDADE MARANHENSE INVESTE NA PROFISSIONALIZAÇÃO DA COMUNIDADE


Arcângela Freitas seguiu o caminho da profissionalização para mudar de vida. - CRAS/ Paço de Lumiar (MA)

  Mais de 1.500 pessoas concluíram cursos oferecidos pelo Centro de Referência de Assistência Social (CRAS), em Paço do Lumiar, no Maranhão. Este ano, além de abrir novas vagas, o Centro ganhará equipamentos novos.

Há três anos, a dona de casa Maria Arcângela Mendes Freitas comandava a cozinha de casa apenas para garantir as refeições da família. Dos segredos de fazer salgados, ela nada sabia. Mas ao se separar do marido, a maranhense, mãe de duas crianças, decidiu arregaçar as mangas e não depender de pensão alimentícia. Inscreveu-se no Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) de Paço do Lumiar, no Maranhão, fez vários cursos e decidiu criar na cozinha de casa uma eficiente linha de produção, que abastece de coxinhas, esfihas, pastéis e empadas várias festas e confraternizações da cidade. No bairro Residencial das Orquídeas, quem fala de salgado, fala de Arcângela.

Em março do ano passado, 1.560 moradores de Paço do Lumiar deram alguns passos na direção escolhida por Maria Arcângela, a da profissionalização. Eles concluíram 21 diferentes cursos oferecidos pelo CRAS, como marcenaria, formação de garçons, estamparia, compotas e licores, corte e escova de cabelo, manicure e pedicure, telemarketing, e doces e sobremesas.

Educação - A secretaria de Assistência Social ainda não fez uma pesquisa formal sobre a aceitação desses novos profissionais, mas já confirmou para este ano a realização da terceira edição de cursos. Serão 1.200 vagas para interessados em aprender os ofícios de salgadeiras, cabelereiros, técnicos em informática, manicures, secretárias, eletricistas, entre outros. Para dar mais infra-estrutura aos alunos, o Centro será equipado com computadores e impressora.

Os cursos, que variam entre 40 e 50 horas/aula, devem começar entre o final de março e o início de abril. As disciplinas são escolhidas de acordo com os interesses da comunidade. Os assistentes sociais do CRAS visitam as comunidades e fazem pesquisas sobre o que os moradores gostariam de aprender. “Temos uma demanda muito grande. Às vezes abrimos um curso com 30 vagas e aparecem 80 interessados”, destaca o secretário adjunto de Assistência Social da cidade, Edgard Pantoja. O mais procurado é também o mais longo, que oferece conhecimentos em Informática, e tem duração de três meses. “A informática é referencial. É uma disciplina essencial para realizar concursos”, considera Pantoja.
Cursos não faltaram na trajetória de Maria Arcângela. Antes de se dedicar ao forno e ao fogão, ela aprendeu a arte do biscuit, da estamparia em tecido e até bijuteria. Chegou a vender brincos, colares e pulseiras em alguns bazares organizados no quintal de casa e em viagens a casas de parentes. Mas a dificuldade de expor as peças e conseguir espaço nas lojas a fez desistir do ramo.

A pequena Paço do Lumiar, com 96 mil habitantes, é uma das quatro cidades localizadas na Ilha do Maranhão. Os outros três municípios são Raposa, São José de Ribamar e a capital, São Luís. A população da cidade, que diariamente percorre 21 quilômetros para trabalhar na capital, é a que possui a menor receita per capita do País – são R$ 296 reais anuais por habitante. A informação é do Instituto Brasileiro de Administração Municipal (Ibam).

Para ajudar a reduzir essa estatística, o CRAS foi criado em 2004 – com recursos do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) e funciona em um amplo casarão, dividido em sala para atendimento psicológico, assistência social, sala de reuniões, sala para atendimento ao público, brinquedoteca, biblioteca e quintal. Neste espaço, trabalham duas assistentes sociais, duas psicólogas, dois pedagogos, além de cinco funcionários que atuam na administração e nos serviços gerais.  
Além de capacitar, o CRAS ainda tenta dar um empurrãozinho para que seus alunos decolem no mercado de trabalho. A própria Maria Arcângela, depois de freqüentar cursos de administração, higiene e limpeza, deixou o telefone com as funcionárias do Centro, que começaram a repassar encomendas para a aluna aplicada. Muitos dos que têm bom desempenho nas aulas são contratados para trabalhar nas festas e nos eventos que a secretaria de Assistência Social oferece.

A próxima etapa para fomentar a contratação destes novos profissionais é criar o Conselho Municipal do Trabalho e, em seguida, uma agência de empregos. “Fizemos uma pesquisa junto aos comerciantes, que mostraram interesse em apoiar a idéia”, comemora o secretário.

Mas esses não são os únicos passos da cidade em direção ao bem estar dos cidadãos. Segundo o secretário Edgard Pantoja, em 2007 foram criados o Conselho do Idoso, dos Direitos da Criança e do Adolescente e o Sistema de Segurança Alimentar e Nutricional. “A primeira cidade do país a criar esse sistema foi Porto Alegre e a segunda fomos nós. A partir de agora, o prefeito assume a responsabilidade pela segurança alimentar” afirma ele.

Novidade -
Atento às ofertas naturais da região, o CRAS de Paço do Lumiar decidiu aumentar as chances de renda. O curso de compotas e licores, ministrado no bairro de Vila Cafeteira, para 30 pessoas, passou a ensinar o cultivo e a conserva de pimenta, produto tradicional e muito consumido nas redondezas.

“Percebemos que todos os rótulos de produtos vêm de outros estados, como Ceará e Piauí”, explica a coordenadora do CRAS, Carla Oliveira. Ela afirma que a vantagem da pimenta é que não é preciso muito espaço, e as pequenas roças e quintais dos moradores da região sempre têm um cantinho de terra para cultivar alguns pés da planta. “Tem gente que vive de Bolsa Família e já está começando a vender pimenta”, destaca a coordenadora. Por enquanto, o comércio é feito entre a vizinhança, mas a prefeitura estuda criar uma cooperativa para organizar a nova atividade.

O projeto de todos que freqüentam os cursos é trilhar um caminho semelhante ao de Maria Arcângela. Em semanas de muito trabalho, ela chega a ter até três encomendas, que variam entre 500 e 1.300 unidades de salgado, cada uma. “Aí é o dia inteiro na cozinha”, brinca. De aluna, passou a ser professora e, só no ano passado, já ministrou três cursos aos aspirantes a salgadeiros do CRAS. Com o dinheiro que ganha, comprou um forno novinho e também o forno de microondas, que sempre quis ter. “Deixei de ser dona de casa e virei uma microempresária. Sou paga pelo meu trabalho. Não me deram só o peixe, mas me ensinaram a pescar”, afirma.

Mariana Moreira
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