Determinação premiada: jovem cearense
supera doença na busca pelo saber

Bruno Spada/ MDS Bruno Spada/ MDS

Senado reconhece o exemplo de superação do jovem
estudante Ricardo Oliveira

Ricardo Oliveira e seus pais: admirável família brasileira

Estudante beneficiário do Programa Bolsa Família mostra força de vontade incomum, ganha duas medalhas nas Olimpíadas Brasileiras das Escolas Públicas e é homenageado pelo Senado Federal

Premiado com duas medalhas de ouro nas Olimpíadas Brasileiras de Matemática das Escolas Públicas (Obmep), em 2006 e 2007, o estudante cearense Ricardo Oliveira, 19 anos, deveria ser o principal homenageado pelos senadores da Comissão de Assuntos Sociais do Senado Federal, na última quarta-feira (07/05). O jovem, porém, surpreendeu a todos ao dedicar as vitórias aos maiores incentivadores dos seus estudos: os pais.
           
“Esse é um presente especial de Dia das Mães para minha mamãezinha, dona Francisca, que me ensinou as primeiras letras e números. Sem ela, nunca eu seria esse vencedor”, agradeceu Ricardo (vítima de uma doença neurológica que provoca fraqueza nos músculos e o impede de andar – amiotrofia espinhal), emocionando seus pais e todos os presentes à cerimônia. A mãe – que estudou até a antiga 6º série do primário – ensinou a Ricardo as primeiras noções de língua portuguesa e as quatro operações básicas de matemática: soma, subtração, divisão e multiplicação.
           
Apesar das perspectivas de estudos no futuro, Ricardo diz não ter planos definidos (pretende cursar matemática ou ciências da computação, ainda não se decidiu entre um curso e outro), entretanto, aposta na educação. Para ele, a chave para a superação das dificuldades brasileiras: “Educação é o segredo para o progresso e para se vencer na vida. Tudo depende dela”, resume o jovem.
           
De futuro mesmo, por enquanto, só as Olimpíadas de Matemática de 2008. Ricardo atualmente está concentrado, se preparando para o próximo torneio. A primeira fase das provas só começa  no dia 26 de agosto – a segunda, em 8 de novembro – mas o animado estudante já deixa um recado aos milhares de concorrentes: “Estou estudando para levar a terceira medalha!”. Nesta primeira etapa, são selecionados 5% dos alunos das escolas públicas (municipais, estaduais e federais) que obtiverem as melhores notas. Na fase seguinte, estudantes de todo o Brasil competem entre si. A prova é de múltipla escolha na primeira fase; na segunda, dissertativa.
           
A mãe de Ricardo Oliveira, dona Francisca Antônia da Conceição, 45 anos, recebe do Programa Bolsa Família, executado pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS),  benefício no valor de R$ 76. O dinheiro, segundo ela, faz diferença na hora de custear parte da educação dos dois filhos: “Compro lápis, caderno, material escolar, roupas e até comida para eles. Com bom uso e economia, a ajuda do Bolsa garante as despesas no final do mês”, avalia a dona de casa. Seu outro filho, Onildo, também é medalhista. No ano passado, ganhou bronze na etapa estadual das Olimpíadas de Matemática.
           
Além do Bolsa Família, Ricardo também recebe R$ 100 da bolsa de iniciação científica do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), concedida em razão das  premiações  nas Olimpíadas de Matemática. O fato de ter-se sagrado bi-campeão nas Olimpíadas de Matemática não faz com que o rapaz se sinta diferente dos demais estudantes. Pelo contrário, em sua opinião, “todas as pessoas têm o mesmo direito de buscar oportunidades”.
           
Estudioso, encara as aulas do ensino fundamental com dedicação e admirável gosto pelo aprendizado. Por causa das dificuldades de locomoção, só começou a freqüentar aulas do ensino regular aos 17 anos – na escola municipal Joaquim Alves de Oliveira, em Várzea Alegre (CE), localidade a 467 km da capital, Fortaleza. Até o mês passado, a família Oliveira morava num sítio afastado, local onde o acesso só é possível por estrada de terra. Hoje, com apoio da Prefeitura, a família mudou-se para o centro da cidade.
           
Dificuldades que fortalecem – Antes que Ricardo pudesse freqüentar as aulas, num reconhecimento ao seu talento e seus esforços, os professores levavam as atividades escolares até  sua casa.  Para fazer as provas, o pai, seu Joaquim Oliveira da Silva o transportava num carrinho de mão. Ambos percorriam cerca de 01 km em estrada de chão – que não permite locomoção por cadeira de rodas. Durante sua homenagem, na capital federal, emocionado, o jovem matemático mostrou que jamais se esquecerá do apoio dado pelo pai: “Amigo, braço-direito, guarda-costas e ‘secretário’ que me dá  força em todas as horas”, definiu.
           
Embora, na realidade, haja muitas dificuldades para Ricardo estudar, ele nunca deixou de cumprir à risca a exigência de freqüência escolar superior a 85% das aulas – uma das condicionalidades exigidas pelo Programa Bolsa Família: “Jamais enfrentamos problemas com relação a isso. O Ricardo adora estudar, então, faltar ao colégio sempre esteve fora de cogitação. A freqüência dele é 100%”, orgulha-se a mãe.
           
A chefe de gabinete da Prefeitura de Várzea Alegre, Adriana Suaid, ressalva que o jovem recebe acompanhamento especial de professores, tanto na escola como em sua residência. “O que não quer dizer que Ricardo tire vantagens com a situação. A freqüência escolar também é uma exigência para ele”, ressalta Adriana.
           
Multicampeão –
No ano passado, para conquistar a segunda medalha de  ouro nas Olimpíadas Brasileiras de Matemática das Escolas Públicas (prêmio destinado aos 300 melhores do País, organizado pela Sociedade Brasileira de Matemática), Ricardo venceu mais de 17 milhões de concorrentes.
           
As medalhas de ouro também garantiram aulas particulares com o professor de matemática Valberto Rômulo Feitosa: “Com livros simples, ele consegue criar teorias matemáticas fabulosas. Tenho honra em dar aula para um aluno como ele”, elogia o professor”. O seu talento – que também inclui astronomia e astronáutica – foi descoberto por meio do Programa de Educação Inclusiva da Prefeitura do município.
           
Para estimular o potencial promissor do jovem – convertido em  celebridade na cidade – a Prefeitura de Várzea Grande entregou à família, em abril, as chaves da nova residência, próxima à  escola na qual o estudante está agora  matriculado. A despesas da casa serão mantidas pelo município. Ricardo também recebeu da administração municipal uma cadeira de rodas motorizada e um laptop. Já o pai, Joaquim, com apoio da comunidade, arrumou emprego num grupo empresarial de Várzea Alegre – outra  ajuda importante para o sustento dos estudos dessa admirável  família brasileira.

Cristiano Bastos

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